Caros Amigos da Cruz, decidi-vos a carregar toda a espécie de cruzes, sem fazer exceções ou escolhas: pobreza, injustiças, fracassos, doenças, humilhações, contradições, calúnias, aridez, discriminações, solidão, sofrimentos interiores e exteriores... e dizei sempre: "O meu coração, ó Deus, está firme, o meu coração está firme". Estai, pois, preparados a serdes abandonados pelos homens e pelos anjos, como se fosse o próprio Deus a por-vos de lado; estai preparados a serdes perseguidos, caluniados, destituídos e colocados de lado, por todos; a sofrer fome, sede, mendicidade, nudez, exílio, prisão, o patíbulo e toda a espécie de suplícios, ainda que não os tenhais merecido pelos crimes que vos atribuem.
E como se tudo isso não bastasse, imaginai que, depois de terdes perdido todos os bens e a própria honra, depois de serdes expulsos da vossa própria casa - como aconteceu com à rainha Isabel da Hungria - vos joguem ainda na lama, como aconteceu a essa santa, e vos arrastem para cima de uma estrumeira, como a jó "que era uma lepra maligna, desde a planta dos pés até ao alto da cabeça" e tudo isso sem que vos deem nem ligaduras para apertar as chagas nem um naco de pão para comer -coisas que não se recusariam a um cavalo ou a um cão; imaginai ainda que, além de sofrerdes todas essas provações, Deus vos deixe ainda prisioneiros de todas as tentações diabólicas, sem derramar na vossa alma nem sequer a mais leve consolação sensível.
Pois bem, crede firmemente que reside aqui o ponto supremo da glória de Deus e a felicidade perfeita a deve aspirar o autêntico e verdadeiro Amigo da Cruz.
S. Luis de Montfort (Carta aos amigos da Cruz)
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