EU NÃO VOU DESISTIR
Heb. 10,39: Nós não somos desertores para nossa perdição.
Perseveramos na fé para nossa salvação.
A experiência de Deus é fantástica, apaixonante, mas também
muito dura.
Quando chega o tempo da prova, quando Deus pede nosso Isac
ou quando Deus permite que notícias cheguem até nós, dizendo que perdemos o que
tínhamos; quando as pessoas se afastam de nó, quando pior ainda, parecem ter
repugnância de nós. Quando depois de parecer ter encontrado o caminho e que
tudo estava para da certo, o dia se torna noite e nuvens espessas escondem o
sol...
A solidão! Só os que experimentam sabem o que é e como é...
Penso então em Abraão, Jó e Elias, homens de fato.
Considerados heróis da fé, mas que tiveram como homens, duras experiências.
Abrão após aguardar por anos o cumprimento da promessa,
agora que tem o cumprimento da promessa, recebe a ordem de sacrificar o objeto
da promessa (o próprio filho).
Um filho doente e já ficamos na angústia. Mas Deus pede a
Abraão o filho Isac, o único filho, a quem Abraão tanto ama...
Quando Deus tira de nós o nosso Isac nosso coração fica sem
saber o que fazer, ficamos sem chão.
Qual é o seu Isac?
Para muitos o Isac é um ministério. Foi toda uma espera até
que viesse a existir, sofreu as dores de parto por ele e quando o ministério já
estava estruturado, crescendo, “um garoto”, Deus tira Isac...
Para outros é vida profissional: tinha-se a impressão de ter
nascido para aquilo, a impressão de ter se encontrado e encontrado o jeito de
agradar e servir a Deus. Mas Deus chega, tira e diz: Tudo é vaidade e vento que
passa...
Ou quem sabe ainda outras situações que lhe pareceram ter
custado anos de dedicação e muitas horas de sono, ou ainda a beleza e saúde
cultivada com exercícios e disciplinas,
mas que em um instante é derrubada com a descoberta de uma grave doença ou por
um acidente causado por negligência de terceiros, e se ouve então da boca de
Deus: Tudo é vaidade e vento que passa...
Olho para Jó e o vejo ainda sentado em sua cadeira e de
repente vão chegando uma após outra as más notícias, trazidas por quatro
pessoas, pessoas essas que só escaparam justamente para lhe trazer as más
notícias.
Vejo Jó, golpeado pelas notícias como um lutador encurralado
num canto e tomando socos um após o outro sem que possa se defender.
Em poucos instantes tudo o que havia construído durante
anos, foi tirado de suas mãos: seus bens, os frutos de suas entranhas, tudo...
Havia restado ainda saúde e esposa, mas não muito tempo
depois sua saúde lhe foi tirada, ficando com chagas malignas desde a planta dos
pés até o alto da cabeça e enquanto raspava o pus com um caco de telha, ouve
então da pessoa que lhe poderia dar apoio, sua esposa, que lhe diz: Amaldiçoa a
Deus e morre de uma vez!
Quais têm sido suas perdas?
Talvez você olhe para o que você já teve de bens, o salário
que ganhava, o que podia antes fazer, onde podia ir, e veja que num de repente
as coisas começaram a mudar e foram vindo as perdas...
Parece que antes que terminasse de chegar ao topo da
montanha, sua vida foi regredindo e numa velocidade progressiva e sem ter como
frear a descida...
Olho para Elias, homem que experimentou a providência de
Deus, experimentou o poder de Deus realizando grandes milagres, mas também o
vejo deitado à sombra de um junípero, após ter caminhado por um dia inteiro no
deserto, pedindo a morte.
Estava tendo a experiência do medo, do esgotamento, a
experiência da solidão...
Já passou por isso?
O medo de ser vencido após anos de vitórias. O medo de ser
humilhado e considerado um nada. Medo de seus opositores. Medo de si mesmo e de
tudo que o cerca...
O medo é uma experiência que bloqueia nossa vida e nos faz
preferir a morte do que ter de enfrentar o objeto de nosso medo.
O esgotamento... Após ter se dedicado tanto e de certa forma
ter gasto a vida, parece que todas as forças foram embora... E não somente as
forças físicas, mas principalmente a força interior. Já não há mais ânimo,
coragem, paixão,vontade, sabor, tudo se esgotou...
O esgotamento tem feito muitos pararem debaixo dos
juníperos e pedirem a morte pois parece
impossível se levantar da situação em que se encontram...
Se não bastasse tudo isso, nos deparamos ainda com a
solidão. Oh terrível experiência a solidão. Não há dor pior, que a dor da
solidão.
Mas ao olhar para esses homens podemos aprender com eles.
Olho para Abraão e o vejo como aquele que esperou contra
toda esperança.
Saber esperar. Entender que o tempo de Deus não é o meu
tempo e que Deus tem a soberania e não eu. Esperar na certeza que aquele que
prometeu, é capaz e cumprirá o que prometeu.
Então, quando estiver preso no castelo da dúvida e for
assombrado pelo gigante desespero, tomarei em minhas mãos a chave “promessas de
Deus” e com ela abrirei as portas do castelo...
Olho ainda para Abraão e o vejo obediente quando Deus lhe
pediu em sacrifício o objeto da promessa. Aprendo então que não me cabe ficar
querendo explicações ou exigindo respostas a Deus por suas ações ou permissões,
mas devo simplesmente obedecer.
A obediência produz paz...
Olho para Jó e aprendo a reconhecer quem Deus é quem eu
sou...
Vejo-o levantando de sua cadeira após receber as más
notícias, rasgando suas vestes, raspando sua cabeça, caindo por terra e quando
penso que irá esbravejar e blasfemar, ouço de seus lábios: “Nu, sai do ventre de minha mãe e nu, voltarei
para lá. O Senhor deu, o Senhor tirou, como foi do agrado do Senhor, assim
aconteceu. Seja bendito o nome do Senhor”!
Jó me ensina que nas perdas, a melhor coisa a fazer é
adorar. Quando fico pensando, buscando uma resposta lógica para os acontecimentos,
minha mente parece ter que se agarrar em argumentos que vão destruir minha
esperança; e se me apóio nesses argumentos perderei minha fé...
Mas então, o que fazer? Prostrar-me em adoração. Somente
adorar, reconhecer que Deus é, Deus pode, Deus sabe...
Vejo ainda Jó diante de sua esposa que vendo-o coberto de
feridas, não lhe dá apoio ou encorajamento, mas em sua insensatez o aconselha a
amaldiçoar a Deus; aprendo que nas horas de sofrimento também aqueles que estão
próximos nos deixarão e ainda nos darão conselhos sem sabedoria...
Aprendo com Jó a humildade, pois após ter argumentado com
Deus com seus três “amigos”, Jó vai declarar: “Pois falei sem nada entender, de
maravilhas que ultrapassam meus conhecimentos. Eu te conhecia só por ouvir
dizer, mas, agora, vejo-te com meus próprios olhos. Por isso, acuso-me a mim
mesmo e me arrependo, no pó e na cinza”
Jó foi um homem íntegro, reto, mas diante de Deus, Jó
aprende a se colocar em arrependimento...
Olho para Elias e aprendo que quando Deus planeja, Ele cumpre.
Deus mandou um anjo para alimentar Elias quando o mesmo sem
forças e sem coragem pediu a morte. Mas Deus não mandou fartura, mandou pão e
água. Nesse tempo difícil, não é o momento de iguarias e guloseimas, mas tempo
de sobriedade. Jesus disse que certos tipos de demônios só se expulsa com jejum
e oração...
Aprendo ainda que há um longo caminho a percorrer. Não
importa o quanto já foi feito, ou o quanto perdemos ou ganhamos, mas há ainda
um longo caminho a percorrer. Ainda não é o fim. Eu não posso fechar as
cortinas quando eu quero. Só Deus sabe o dia e a hora de fechar as cortinas e
apagar as luzes. Quanto a mim, tenho ainda muito para caminhar.
Aprendo ainda com Elias a estar na presença de Deus e mais
uma vez saber que Deus é soberano em tudo que faz. Ele se manifesta como quer,
quando quer, onde quer...
Aprendo com Elias que tenho que retomar o caminho. Ainda que
retomar o caminho seja algo que desperte receios, dúvidas, mas é necessário
retomar, pois ainda não chegou o fim.
Aprendo que é preciso deixar um legado. Seria um erro ter
caminhado tanto, ter sido castigado pelo sol do deserto, sobrevivido às duras
provas e não deixar nada para aqueles que terão de trilhar o mesmo caminho.
Com esses homens aprendo que não é hora de desistir.
Desistir é decretar minha ruína. É assinar o próprio atestado de óbito. Jesus
disse: “O que perseverar até o fim será salvo”.
Às vezes quero eu mesmo dizer que já é o fim, mas só Deus
pode dizer isto.
Então vou me levantar e caminhar. Vou retomar o caminho e
sem murmuração caminharei até o dia em que poderei dizer como o apóstolo Paulo:
“Combati o bom combate, guardei a fé, agora só me resta receber a coroa da
vitória.”
Pois eis a promessa: “Se fiel até a morte e dar-te-ei a
coroa da vida.”